Entrevista com o ilustrador Juba

Juba atua também como professor e palestrante

 José Antonio Saia Siqueira, mais conhecido por professor “Juba”, tem 38 anos e trabalha profissionalmente  com desenho  há cerca de quinze anos. Atua também como professor de desenho ministrando aulas de Desenho Clássico e Ilustração e Desenho para Estampa numa escola de artes em Blumenau, em Santa Catarina. Tarefa que também divide com aulas particulares num estúdio de animação para profissionais já atuantes no mercado. Designer gráfico, palestrante, Juba tem feito vários workshops relacionados ao desenho e ao mercado de trabalho. Como ilustrador atende editoras, agências  e de acordo com ele: “Amo tudo que tem a ver com arte.” 

PNAE – Como foi a descoberta do talento para fazer desenhos e ilustrações? 

Juba - A descoberta pelo gosto de desenhar na verdade veio desde sempre, entender como viver disto veio bem depois. Meus pais sempre me incentivaram a fazer o que eu gostava, minha mãe era musicista e sempre me deu liberdade de curtir a arte. Mas também tive sorte de ter uma educação rígida aqui no Brasil e no exterior, coisa de meus pais também. Meu primeiro contato sério com desenho foi ainda guri, numa loja de artes aonde eu fazia uma oficina de desenho, ainda adolescente fiz um curso na Escola Panamericana de Artes em São Paulo, depois disso foi muito na marra. Me apaixonei por Disney moleque e desde então sempre quis desenhar mas não sabia aonde nem como. Não fiz faculdade de desenho com medo de não encontrar mercado no Brasil, acabei fazendo jornalismo – comunicação social, mas depois de tudo, acabei caindo de pára quedas no desenho animado, e cá estamos.

PNAE – O que foi que te motivou a seguir nessa área?

Juba - Hoje me considero mais professor de desenho que ilustrador para o mercado, apesar de atender algumas editoras ainda e ter muitos parceiros e amigos desenhistas que vira e mexe bolam algum projeto legal de participar. Depois que cheguei em Blumenau, por volta de 2004-5 estava procurando um curso de desenho para não enferrujar e me deparei com o Belli Stúdio, na época fazendo a produção para o Beto Carreiro dos desenhos do Betinho. Por acaso ele dava um curso na Fundação Cultural de Blumenau e acabei indo trabalhar no estúdio, do estúdio também comecei a lecionar pois quando o Belli não pode mais dar aulas acabei assumindo na Fundação, e lá fiquei por mais 4 anos. Acho que este foi o estopim, ver que realmente o que eu fazia podia virar meu ganha pão, até então procurava coisas na área de marketing ou publicidade. Mas acabei enveredando mesmo para o desenho e voltei às minhas origens. Meu pai depois de adulto ainda me falou que gostava da ideia de eu trabalhar com desenho e via muito futuro nisso, isso me deixou tranquilo. É tão importante o apoio da família seja em que área for. Depois de ver meus desenhos em livros e na telinha não quis mais saber de outra coisa, hoje tenho o privilégio de ajudar aspirantes a chegarem lá, o que me dá enorme alegria.

PNAE – Como é o trabalho de concepção de um personagem para livros infantis?

 Juba - Leitura e conversa e muitos estudos e desenhos. Costumo receber um texto descrevendo o personagem ou a descrição do personagem vai acontecendo ao longo da história (que também vem muitas vezes como texto corrido). Meu editor é mais bonzinho e divide a história toda em páginas e capítulos e passagens, mas em geral acabo lendo três ou quatro vezes um texto para entender bem o personagem, suas características, seus maneirismos, enfim... portanto é primordial uma boa leitura de texto. Muitas vezes o personagem é discutido com o editor ou o autor da história, que pode ter uma melhor ideia do conceito que quer para a história, muitas vezes faço vários estudos de como imagino que seja o personagem e envio estes estudos para o autor para discussão, trocar ideias é sempre bom para deixar a história bem elaborada. Então a imagem é aprovada e trabalho em cima disso. Normalmente, quando tenho tempo construo o que chamamos de “model sheet” , uma página modelo com várias poses e expressões do personagem para que eu não tenha que re-desenhar toda vez que ele fizer uma determinada ação, já tenho um modelo pronto e baseio o desenho naquilo. Muitas vezes se não houver tempo de fazer um estudo do personagem e a história for longa, o personagem pode ir mudando, melhorando, ao longo da história, pelo simples fato de desenhá-lo mais vezes vai descobrir melhores formas de expressar o que o personagem diz. Então acaba sempre sendo isso, texto e historia, estudos e desenvolvimento e daí a produção. As vezes faço tudo, esboço, arte final e pintura, mas as vezes somente uma parte do projeto.

PNAE – Tem algo que te inspira?

Juba - Tudo. Gosto muito de música na hora de criar, bem alto, todo tipo.. depende do meu exú. Gosto muito de olhar outros artistas, de ver coisas diferentes, de ver aulas pela internet de outros feras, assisto muito tutorias sempre buscando outras formas de fazer alguma coisa. Criatividade não cai do céu, mas há coisas que se pode fazer para fomentar momentos criativos e de insight.

PNAE – Existem dias que você está mais inspirado? E nesse aspecto o que te faz reconhecer isso?

Juba - Sim, em geral isto está associado a meu humor. Mas sim, tem dias que a coisa flui bem melhor, quando o desenho saí sem muita dificuldade, ou conseguir visualizar a ideia no papel de forma clara, a concentração está bem aguçada... tudo isso é um bom sinal e em geral os desenhos saem mais rápido mais precisos e melhores. Mas tem dias que a coisa não rola mesmo, para estes dias é melhor um bom livro ou um filme ou um passeio para clarear as ideias, o bloqueio criativo existe, acontece por uma série de motivos, e o artista deve aprender a lidar com ele.

 PNAE – E a parceria com escritores, como se dá?

Juba - Normalmente se dá através de editoras, um ou outro escritor vem me procurar diretamente ou por conhecer meu trabalho, ou por alguém indicar. Normalmente é parceria com editora, aonde a editora tem um texto de um escritor e me passa para fazer as ilustrações. Também acontece de receber textos de conhecidos para projetos particulares, como tenho muito contato com pessoas na escola e fora dela, também me procuram para saber como publicar um livro e as vezes isto leva a algum projeto. As vezes é algum conhecido meu que está com mais de um projeto em mãos e não consegue atender, também faço isto para quem conheço e confio, manter contato com pessoal da área é importante, sempre rola alguma coisa.

PNAE – Que tipo de trabalho mais te satisfaz?

 Juba - Hoje meu trabalho com as aulas e projetos independentes. Gosto muito de trabalhar com editoras, sempre surge um projeto bacana para trabalhar, com a Sonar principalmente que o Ramon (editor) é um cara que tenta fazer alguma coisa diferente ou nova, então é sempre interessante. Hoje tenho voltado mais a minha atenção a projetos de alunos, ano passado fizemos um livro infantil para uma editora e me ví muito realizado de poder fazer um projeto não como ilustrador mas como direção de arte, coordenando o projeto. Deu todo certo e ficou lindo, este ano estou procurando me envolver com mais projetos deste tipo, mais independentes. Em parceria com outros desenhistas, não somente com as empresas.

 PNAE – Como é receber o retorno das pessoas que entram em contato com a tua obra?

Juba - É ótimo, apesar de que vejo pouco dos livros que faço aqui em Blumenau pelo mercado de distribuição ser outro, mas das coisas que faço aqui e que já tive retorno pessoalmente é muito gratificante, principalmente em se tratar do mundo infantil, época tão importante e tão feliz da vida. É muito bom saber que as coisas que eu faço um dia vão fazer brilhar os olhos de uma criança para a leitura, para curiosidade, para as cores, a pensar. E ajudar outros hoje a fazerem isto também me deixa muito feliz porque vejo em outros que começam o mesmo brilho nos olhos que eu tinha (e tenho) de quando comecei nesta coisa de ser desenhista.

PNAE – Que projetos você tem para este ano ou futuro próximo?

 Juba - Projetos... como bom artista da Globo, tem vários rolando (risos). Mas tem um monte de coisa. Livros; acabei de terminar dois “infanto” para a coleção do Robi e Pupu dois cachorrinhos, que devem sair ainda este ano, estou esperando pelo lançamento também do outro livrinho para a escritora Bettina que fizemos de uma corujinha que ficou lindo também (este foi com os alunos), este acabamos de fazer agorinha e deve sair este ano. Tenho alguns textos de poesia de uma escritora aspirante na minha mesa lá em casa que pode virar livro(s) ainda estamos debatendo isto, esta é uma particular. Tem um projeto de animação que ainda está em discussão com alguns amigos desenhistas e também veteranos, mas este deve rolar mais pra frente na segunda metade do ano se a gente conseguir se juntar, deve ser um projeto independente mas estamos com uma turma maluca e uma história bacana que pode virar filme, um curta de animação. Tenho alguns eventos de casamento e formaturas que atendo fazendo caricaturas ao vivo, o que é outro nicho que atendo que dá um retorno legal tem um agora e outro em Junho. Talvez um Fanzine saia este ano com o grupo de sexta feira (também coordeno um grupo de desenho toda sexta feira na escola – o Clube do Desenho), mas depende mais deles do que de mim.

Tem também meu canal no YouTube – “Desenho com professor Juba”, que pretendo melhorar, postar mais aulas e tutoriais, e para a metade deste ano abrir um “bate papo” semanal, mas ainda estou bolando o conteúdo disso. E tem meu livro claro! De desenho clássico, acadêmico, que pretendo editar também, faz parte do que passo em aula na minha apostila e pretendo transformar este conteúdo em livro, daí é com uma editora de São Paulo (Discovery – Criativo) com quem conversei ano passado, também de lançar um livro com conteúdo das aulas que faço do estilo “passo a passo” e “como desenhar”. Tem também um projeto gráfico de identidade visual que estou desenvolvendo para uma rede de lanchonetes aqui de Blumenau agora, mas isto é design gráfico, outra coisinha que acabo fazendo também...ufa. Acho que é por aí, não tem como ficar parado, mas acho que o melhor de ser “freelancer” é isto, poder ter todas estas atividades, a gente “se vira nos 30”, conhece muita gente legal, fomenta a arte e a leitura e até dá uma entrevista bacana como esta daqui. Aliás, outro projeto é participar de mais ações de propagação da arte como esta, muito legal e muito obrigado. 

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