Pedro Bandeira fala ao PNAE

Em visita à sede do PNAE, Programa Nacional de Assistência ao Ensino, o autor Pedro Bandeira, que mais vende livros de literatura juvenil no Brasil, concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal Clube da Leitura.

PNAE -  O que foi determinante para o senhor se tornar um escritor?

Pedro Bandeira - Primeiro a profissão que era de escrever. Eu era jornalista. Muito tardiamente eu comecei a escrever histórias literárias. Isso foi aos meus 40 anos. Como jornalista eu precisava escrever todos os dias. Era obrigado a escrever o que me mandavam, conhecendo ou não o assunto. Com ou sem inspiração, tinha que fazer e pronto. Aquela é a pauta, te vira. Isso dá uma grande maleabilidade no texto, porque escrevia sobre qualquer assunto. Devagar comecei a publicar algumas histórias em revistas. Eu gostei, mas acima de tudo as crianças gostaram, as pessoas gostaram. Aí eu larguei o jornalismo.

PNAE - As atividades no teatro e no jornalismo colaboraram de que forma no seu trabalho como autor?

Pedro Bandeira - Na verdade o teatro e a literatura ajudam a você ter cultura. E te inspiram. O jornalismo te ensina a aprimorar o texto, a escrever com concisão, você aprende a escrever.  Você aprende a escrever pra valer. Muitos autores vieram do jornalismo porque como jornalista tua profissão é escrever, escrever razoavelmente bem. E porque escreviam muito bem, muitos jornalistas se tinham imaginação para escrever ficção se tornaram escritores, foram para a literatura. O jornalismo é muito bom como escola.

PNAE – O senhor nos disse que começou escrever literatura apenas aos 40 anos. Por que?

Pedro Bandeira - Geralmente um escritor começa tarde. Como é o caso de Monteiro Lobato, a Ruth Rocha, Ziraldo. Essa gente toda começou escrever aos 40 anos. Especialmente para crianças essa é a fase , porque você já tem experiência, já observou um série de coisas, já apanhou da vida. Eu escrevi meu primeiro livro, tinha 40 anos.

PNAE - Qual foi a sensação , lá no começo dos anos 80, quando teve o primeiro livro publicado “O dinossauro que fazia au au”?

Pedro Bandeira - Olha a sensação é como ter o primeiro filho. É muito gostoso, mas o gozado é que a sensação continua a mesma. A emoção ainda é a mesma. O suspense ainda é o mesmo a cada obra. É como se fosse um novo filho. Aí eu penso, como será? Vai nascer direitinho? Vai sair legal? É gostoso isso, é um renovar-se. Embora eu seja coroa, é como se eu estivesse estreando. E eu acredito que com todos os autores deva ser assim.

PNAE -  Daquela época até agora, histórias foram se somando. Como é o processo de criação?

Pedro Bandeira - Esse é o problema. Você não quer se repetir. Chega uma hora que as ideias que você tem são muito semelhantes a histórias que você já escreveu. Então não dá. Você precisa de uma coisa nova. Não dá pra escrever a mesma história de uma outra maneira. É bobagem. Então tenho que achar um outro ângulo, da alma humana, das emoções do jovem, das emoções das crianças, para apresentar uma coisa nova, que vai agradar o leitor. Então, quanto mais você escreve, mais fica difícil de escrever. Além do que, fica mais exigente escrever. Você não quer lançar qualquer coisa. Você quer lançar algo que seja no mínimo igual ou melhor aquilo que você já fez. Mas é um desafio.

PNAE -  O que mudou na literatura infanto-juvenil nessas quatro décadas?

Pedro Bandeira - Olha, o que mudou mesmo foi a quantidade. Naquele tempo não tinha quase ninguém. Hoje tem muito escritor, muito livro, muita editora. Isso é bom. A literatura em si não muda, porque o ser humano não muda. O ser humano continua sendo o ser humano. O menino continua brigando com o pai, porque o pai não deixou ele sair, ou porque cortou a mesada, sabe...Como era antes e será daqui um século. Ou a menininha que começa observar o menino que ela tem interesse em namorar. Isso acontecia há 20 anos e vai continuar acontecendo, é igual. Essas coisas não mudam. As emoções humanas não mudam. Todo mundo acha que a tecnologia obrigou alguma mudança na arte. Não! Na arte não. Na maneira de fazer a arte talvez, porque hoje, por exemplo, é mais fácil escrever no computador, do que antes que eu escrevia a lápis, porque na máquina de escrever era muito ruim, porque na máquina de escrever você não pode corrigir, não pode acrescentar algumas coisas. Eu escrevia a mão, com lápis, apagava, escrevia nas beiradas, usava a máquina de escrever só pra passar a limpo. Hoje, no computador, o texto está sempre bonito, sempre arrumadinho na tua frente. Ou seja, a tecnologia só veio pra ajudar. Ela não mudou o conteúdo. Você vê pelo fotógrafo. Não é a máquina que tira a foto, é o fotógrafo. Antigamente tinha o filme que você enrolava. Quem fazia uma boa foto fazia. Quem não fazia, não fazia. E hoje com essas máquinas que fazem “tá tá tá tá”, continuam fazendo muitas fotos ruins quem não sabe fotografar.  Sem luz, mal focado. Então não é o fato da máquina fotográfica ter evoluído que mudou a arte fotográfica. O artista ainda é o artista. E o ser humano ainda é o ser humano.

PNAE -  Como é a sua relação enquanto escritor com os leitores?

Pedro Bandeira - Ela sempre foi muito gostosa. Agora via e-mail, mas antigamente era via carta. Os maiorzinhos escrevem, claro que as crianças também escrevem, mas os que estão no fundamental 2 por exemplo, te mandam e-mail, falam coisas, dão palpites, pedem mais livros com os caras... E eu sempre respondo tudo. Você acaba inclusive criando alguns dos teus amigos que envelhecem. Tenho uma leitora que já casou, já tem filhos, cada vez que nasce um filho me manda as fotos. Tem uma que já casou e mora na França. Tem um que agora esta estudando nos Estados Unidos, está adulto já. E você fica amigo de alguns. Ficam como se fossem uma espécie de filhos teus, ou afilhados teus, é muito gostoso. Os meus livros, hoje, eu dedico pra eles. A maioria dos meus livros são dedicados aos meus leitores. 

PNAE - Gostaria que o Pedro Bandeira, definisse o Pedro Bandeira.

 Pedro Bandeira - É difícil dizer que eu sou. Quando me olho no espelho eu vejo um velho de bigode que não corresponde a mim. Entendeu? Eu ainda acho que estou começando, ainda tenho planos como se eu estivesse estreando. Eu sou um cara que continua correndo atrás de um aperfeiçoamento que nunca vai chegar. Então eu sou um cara muito dedicado, um cara caprichoso. Esse livro, por exemplo, que vou lançar, há 12 anos eu trabalho nele. Já reescrevi inúmeras vezes, porque não estava legal. Eu vou narrar de forma diferente. A narrativa por este personagem está ruim, então vou narrar por outro. Então o Pedro, acho que é um cara que se dedica.

PNAE-  Sobre o trabalho do PNAE, Programa Nacional de Assistência ao Ensino, maior distribuidor de livros infantis do Brasil, do qual o Portal Clube da Leitura faz parte, o que pode ser dito?

Pedro Bandeira - Vocês tem uma organização grande e bem eficiente. É uma organização que realmente chega onde as próprias ações comercias das grandes editoras não conseguem chegar. Vocês criaram caminhos e segmentos novos para atingir o meu leitor. Porque, infelizmente no Brasil o livro não tem perna mesmo.  O livro não tem a principal perna que é a família. Na Alemanha, por exemplo, a família é a principal divulgadora de um livro para a criança. Aqui não. Nós precisamos de um trabalho como o de vocês. Vocês conhecem, vão atrás. Vocês fazem o livro chegar. O Brasil é grande demais, grande demais. Difícil de chegar. As próprias editoras, grandes editoras, por mais poderosas que sejam, elas atingem superficialmente. Vocês criaram alguns mecanismos de penetração vertical. A editora pode no máximo estender um lençol horizontal no mercado. E quanto maior a editora maior vai ser esse lençol. Por isso, o trabalho que vocês fazem é importante para os escritores, importante para mim. Se não houvesse esse trabalho, talvez a minha atuação no Brasil teria uma percentagem menor. Eu fiquei muito feliz em conhecer  o trabalho, sei da importância e confio. Essa penetração de segmentos de consumidor que de outra forma estariam esquecidos, não abandonados, esquecidos. Até a existência deles era esquecida.  Essa coisa de ir em um município pequeno, onde uma criança precisa de um livro, assim como uma criança de Porto Alegre, é um brasileiro igual, tem o mesmo direito. Assim, vocês conseguem levar o livro até lá, montar uma pequena biblioteca e assim essa criança passa a ter direito a ter um livro, a me conhecer, conhecer nossos escritores e poder gostar de literatura.

Imagens Relacionadas

Clique nas imagens para ampliá-las.

Vídeos Relacionados

Clique nos vídeos para visualizá-los.

Arquivos Relacionados

Clique nos arquivos para baixá-los.

Rua Dom Pedro II, 319 - Bairro Petrópolis - CEP: 99051-390 - Passo Fundo/RS

Newsletter

Cadastre-se e receba nossas novidades!

2024 © PNAE. Todos os direitos reservados - Parceria Sistemas