Entrevista com o escritor e ilustrador Ricardo Azevedo

Ricardo Azevedo, escritor e ilustrador

Ricardo Azevedo é escritor e ilustrador com muitos livros publicados para crianças e jovens. Ganhou várias vezes o prêmio Jabuti. É autor também do livro Abençoado e danado do samba - Um estudo sobre o discurso popular, Edusp (Prêmio Senador José Ermírio de Moraes da ABL 2014 e Prêmio Jabuti Teoria e Crítica Literária 2014 – 2º Lugar). Tem obras publicadas na França, Alemanha, México, Costa Rica, Portugal e Holanda. Doutor em Letras (USP) e pesquisador na área da cultura popular. Site: www.ricardoazevedo.com.br e Facebook: https://www.facebook.com/rjdazevedo

 

 

PNAE - Como se deu o início da atividade como escritor e ilustrador?

Ricardo Azevedo - Percebi que gostava de escrever fazendo as redações escolares isso lá pela 6ª ou 7ª série. Com o tempo passei a escrever redações por conta própria sem ninguém pedir. Meu livro “Um homem no sótão” teve sua primeira versão escrita quando eu estudava no ensino médio e seu título era  “Um autor de contos para crianças”.

 

Como gostava de desenhar num dado momento percebi que seria muito bom poder fazer desenhos para meus próprios textos. Preciso contar que quando tinha uns treze anos passei 6 meses na Europa (principalmente na França, mas também Portugal, Espanha e Itália). Fui com minha mãe acompanhando meu pai que era professor universitário e andou dando cursos por lá. Essa viagem, os muitos lugares, museus e igrejas que visitei, as artes visuais valorizadas e expostas por todos os lados, tenho certeza de que contribuiu muito para que mais tarde me tornasse um desenhista.

 

Vale dizer também que antes de publicar meu primeiro livro, em 1980,  trabalhei por cerca de 11 anos como redator e também como ilustrador publicitário e essa experiência profissional foi muito importante na minha formação.

PNAE - Nesse período quais as principais mudanças que você pode acompanhar e vivenciar na produção literária?

Ricardo Azevedo - Falando de mim mesmo, vejo a produção literária como um aprendizado constante. Não existem fórmulas. Cada livro de certa forma representa começar do zero e reaprender tudo de novo. É como se diante de um novo texto eu tivesse que aprender o que ele é, que jeito tem e de que maneira devo criá-lo. É muito instigante esse processo.

 

No geral, creio que vivemos um momento contraditório. Com as inovações tecnológicas tornou-se absurda a quantidade de livros produzidos. Muitos deles são de baixa qualidade. Ao mesmo tempo, essa maior facilidade para publicar tem possibilitado que surja um monte de gente boa, escritores e ilustradores, com trabalhos novos e criativos.


PNAE - Alguns de seus livros também estão publicados em outros países e você tem prêmios pela produção literária. Qual o grau de satisfação que isso produz?



Ricardo Azevedo - É uma satisfação muito grande. Tanto ganhar prêmios como ter livros traduzidos  são coisas que funcionam como um reforço ou como a confirmação de que a gente está no caminho certo e que nosso trabalho faz algum sentido.


PNAE - Ser escritor e ao mesmo tempo ilustrador é um diferencial para a atuação junto ao público infantil?

Ricardo Azevedo - Existem vários escritores que também são ilustradores. De qualquer forma, é tão rico ilustrar o próprio texto como ter um texto ilustrado por outra pessoa ou, o inverso, ilustrar o texto de outro escritor. Apenas são situações de trabalho diferentes. O importante é que o resultado final seja bom e original e este é sempre um grande desafio.

PNAE - Como você observa atualmente essa convergência de textos nas mídias digitais? Muda de certa forma o perfil da produção textual?

Ricardo Azevedo - Difícil dizer. Ao que tudo indica os mais jovens estão se habituando a ler de uma forma mais rápida, horizontal e fragmentada. Não tenho certeza mas em princípio creio que isso seja uma perda. A concentração exigida pela leitura tradicional – ficar duas ou três horas lendo um livro é trabalhoso e exige capacidade de aprofundar e de interpretar – corresponde a um tipo de introspecção que pode fazer com que a gente amplie nossa consciência, nossa capacidade cognitiva e nossa sensibilidade diante das coisas da vida e do mundo. Que ciência fará um cientista ou que arte fará um artista sem capacidade de concentração e de introspecção?


PNAE - Criação literária ganha ou perde com isso?

Ricardo Azevedo - A criação literária perde diante de leitores rasos e incapazes de se concentrar e se aprofundar num único texto.

PNAE - De onde vem a sua inspiração para os textos?

Ricardo Azevedo - Creio que de vários lugares – coisas que vejo, leio, ouço etc. – mas principalmente das minhas próprias inquietações, dúvidas, medos e perplexidades diante da vida e do mundo. Elas me estimulam a inventar histórias.

PNAE - Nesse ano você lançou um livro pela editora Tribos, do grupo PNAE -  "O moço do correio e a moça da casa de tijolinho". O que você tem observado nessa nova parceria?

Ricardo Azevedo - Iniciamos essa parceria há muito pouco tempo mas posso dizer que ela me deixou bastante contente. Sinto que abri uma nova janela para fazer escoar o meu trabalho.

PNAE - Há possibilidade de novos títulos virem a ser lançados pela Tribos?

Ricardo Azevedo - Sim! Por que não?

PNAE - Dá pra revelar para os leitores algum projeto novo que está sendo elaborado?

Ricardo Azevedo - Desde meados do ano passado andei mergulhado num texto do qual acabo de concluir a primeira versão. Estou agora na fase de reler e rever. Ele tem por base uma pesquisa que tenho feito sobre o período colonial brasileiro e que já foi usada em outro livro: Fragosas brenhas do mataréu, publicado pela Ática em 2013.

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